Capitulo XVIII
Assim que o curandeiro saiu Phil entrou no quarto onde sua esposa estava junto com algumas servas arrumando as cobertas em volta do corpo de Paul e ascendendo a lareira.
— Como ele está? – perguntou para Gwen que olhava de forma preocupada para o rapaz.
— Podia ter sido pior. Ele conseguiu um pulso torcido e várias contusões, além de dois galos na cabeça. O curandeiro acha que ele pode acordar logo com uma baita dor de cabeça.
— Eu não sei o que aconteceu. Mathew saiu correndo por causa das crianças e eu pedi para trazê-las para o castelo.
— Ele parece que caiu de algum precipício, mas teremos que esperar Mat para saber – olhou o marido – Ouvi que algo aconteceu no sul?
O príncipe olhou as servas e Gwen entendeu. Agradeceu a elas e disse que ela cuidaria do rapaz de agora em diante. Quando a porta se fechou ele levou a esposa até um canto do quarto onde havia um sofá confortável perto de um vaso com um buque de flores do campo enchendo o ambiente com seu perfume.
— O que está acontecendo Phil? – perguntou ela ao se sentarem.
— Quando Mat chegou eu já sabia do ocorrido por um relatório de Capela, mas com a sala cheia de servos eu não queria que ninguém ouvisse, ma parece que isso não impediu as fofocas de se espalharem. Parece que a amazona passou pela vila de Theas ao sul e encontrou a população da vila dizimada. Todos assassinados.
Gwendelyn empalideceu ao ouvir isso. Haven era um reino pacifico que nunca havia lutado uma guerra. Seu exército era o suficiente apenas para manter a segurança interna, a proteção de Gaulesh bastava para afastar qualquer um que tivesse más intenções.
— Eu mandei um pequeno grupo de homens investigar e ver o que podia me trazer antes de me comunicar com Dylan – ele segurou a mão da esposa – Não podemos nos dar o luxo de termos um país em pânico.
— Mas é apenas uma questão de tempo antes que isso se espalhe por todo o lado.
— Eu não consigo entender o que alguém ganharia matando as pessoas de uma vila rural. Matar apenas por matar? Isso me dá mais medo ainda, medo de estarmos enfrentando um louco com prazer de morte.
Gwen abraçou o marido fazendo um carinho nos cabelos dele tentando diminuir sua dor pela perda daquelas pessoas. Habitantes de Haven que os dois juraram proteger quando subiram ao trono.
Mat freou seu cavalo perto da varanda da casa da floresta junto com sua comitiva. Na varanda estavam Gabe e Sara, com Jared e Jason olhando para fora por trás de suas pernas. As crianças pareciam assustadas e isso apertou o coração do príncipe. A chuva havia parado totalmente, deixando uma noite estrelada e gelada.
Pulou do cavalo indo para junto das crianças.
— Mat o que está acontecendo? – Sara segurava a mão de Gabe que o olhava com os olhos verdes arregalados – A mãe saiu faz tempo e não voltou!
— Crianças – ele se ajoelhou diante dos meninos – Eu encontrei o Paul, ele está lá no castelo e o meu irmão pediu para que vocês fossem até lá. Ele mandou a sua carruagem para isso.
— Aconteceu alguma coisa com ele? – Gabe tremia.
— Ele sofreu um pequeno acidente, mas vai ficar bem. Ele só não pode viajar agora. Peguem algumas roupas para passar a noite e vamos ver o Paul logo, logo – olhou em volta – Onde está o Shon?
— Lá em cima chorando – respondeu Jared de detrás das pernas de Gabe – Ele fica falando que a culpa é dele.
Os dois menores sempre tão inquietos estavam tristes e abatidos.
— Garotos eu não sei o que aconteceu, mas conversaremos no castelo.
— Mat o Maleah saiu dizendo que ia procurar meu pai – disse Gabe – Ele não voltou. Não podemos deixá-lo perdido!
— Vamos fazer assim, eu peço para dois soldados procurarem por ele, certo?
Eles assentiram e entraram na casa. Mat conversou com dois soldados dando a missão de procurar o elfo, apesar dele não estar muito preocupado. Poucas coisas podiam acontecer de mal a um elfo. Eram seres mágicos poderosos e fortes.
Ele entrou na casa também indo até o segundo andar e ao quarto que Shon dividia com Gabe. Mesmo do corredor ele podia ouvir o choro do menino.
— Shon vai ficar tudo bem – Gabe estava do lado da cama do menino tentando algo para confortá-lo, mas não estava sendo bem sucedido.
Mathew sentou na borda da cama onde o menino estava de bruços soluçando e colocou a mão na cabeça do menino.
— Oi companheiro! – disse ele de forma carinhosa.
Shon se virou abruptamente olhando para o amigo que ele achava que nunca mais ia ver. Ao se dar conta do quanto tinha sido criança ao pensar assim, o menino se jogou nos braços de Mat soluçando.
— Mat! Mat! Cadê a minha mãe? – ele abraçava apertado o outro apertado.
Mathew também abraçou forte o menino e começou a falar de forma calma e carinhosa.
— Vai ficar tudo bem, calma. O Paul está lá no castelo e vim buscar vocês.
— É minha culpa! Eu achei que você ia embora pra sempre, que não ia mais voltar. Eu fiquei tão triste e com tanta raiva que não queria ver ninguém. Ai eu fui para o lago e dormi, na vi a chuva. O Gabe foi me buscar e demoramos e ai a mãe saiu e não voltou e eu sou o culpado.
Mat começava a entender um pouco de toda aquela história. Sabia que era uma travessura do garoto, que sua atenção deveria ser chamada, mas ele não conseguia ficar bravo com o garoto naquela situação. Ele parecia uma folha em meio à tempestade, tremendo e soluçando. Nada par o seu pranto sentido.
— Vai ficar tudo bem Shon, você não teve culpa. Nós agora vamos ver a sua mãe.
— Arrumei algumas coisas nossas – Gabe apontou para a pequena trouxa em sua cama.
Mat balançou a cabeça e pediu um agasalho de Shon. Gabe entregou uma blusa puída de tricô, mas limpa e perfumada com um perfume que lembrava muito a Paul.
Com Shon no colo ele desceu para a sala onde as outras crianças esperavam. Apagaram as lanternas e trancaram a casa e foram para a luxuosa carruagem real. Os meninos não pareciam ligar para o veiculo. Gabe segurava a mão de Sara com medo de ela tropeçar já que ela estava em um terreno desconhecido, Jared e Jason estavam encostados um no outro cochilando e Shon estava ainda em seu colo não parando de chorar agora baixinho.
Eles rodaram por uma hora até a vila e depois ao castelo ainda com as janelas iluminadas. Gwen estava na porta com Phil e sorriu ao ver as crianças.
— Bem vindo meninos – disse Gwen quando desceram da carruagem.
— Tá tudo bem com a nossa mãe? – perguntou Sara que pela primeira vez desde que Mat a conhecera parecia perdida e com medo, ela não largava a mão de Gabe.
— Ele está dormindo agora. Vou deixar vocês verem ele se me prometerem fazer silencio.
As crianças fizeram um gesto afirmativo e entraram no castelo com os príncipes olhando a enormidade da sala de visitas e a escadaria de mármore que ia para os andares superiores.
Subiram até um quarto no fundo do corredor entrando e vendo Paul deitado em uma grande cama de colunas com dosséis. Eles se aproximaram parecendo perdidos e muito tristes.
Paul era tudo que aquelas crianças tinham, era seu pilar de sustentação.
Gabe colocou sua mão sobre a dele tocando levemente como se estivesse com medo dele quebrar. Mat havia descido Shon do seu colo e o garoto relutava em se aproximar da mãe, agora sentindo-se mais culpado que nunca.
Parecia que Paul estava apenas esperando para sentir sua família perto dele, suas pestanas estremeceram e ele abriu os olhos dourados.
— Mãe!
— Pai!
As crianças gritaram felizes. Mathew chegou perto dele sentando do lado da cama colocando a mão em seu rosto respirando aliviado quando ele sorriu.
— Ola – sua voz estava rouca, mas era o suficiente para deixar todos aliviados.
— Não faça mais isso Paul – gemeu Mat acariciando os seus cabelos – Meu coração não vão agüentar.
— Bobo – disse ele e depois se voltou para os filhos percebendo o alivio no rosto deles – Vocês estão bem?
— Mãe estávamos preocupados – disse Sara querendo se jogar nos braços dele, mas com medo de machucá-lo de algum modo.
— Desculpe crianças – disse ele – Shon? – seu olhar foi para o menino que estava cabisbaixo afastado dele – Tudo bem, meu filho?
— Desculpe mãe – murmurou ele torcendo os dedos – É culpa minha.
— Não, não – ele sentou com a ajuda de Mat – Ninguém teve culpa, foi um acidente.
— E se você não voltasse mais? – Shon tinha os olhos vermelhos e cansados.
— Sem vocês? Eu nunca iria embora Shon sem a minha família. Eu prometo que sempre vou voltar – ele estendeu o braço – Venha cá.
O menino mesmo relutante foi se abraçar com a mãe e essa foi à deixa para todos os outros também subirem na cama. Mat se afastou deixando eles com seu momento em família.
Phil e Gwen resolveram se aproximar naquele momento.
— Você está melhor Paul? – perguntou o príncipe junto de sua esposa.
— Estou sim. Obrigado pela ajuda alteza – olhou Gwen – Princesa.
— Não precisa agradecer – ela deu um beijo no rosto dele – Agora que tal irmos dormir para que a mãe de vocês possa descansar? Tenho alguns quartos arrumados aqui do lado e vou levar vocês.
Os meninos queriam protestar, mas Paul pediu para que eles fossem com os príncipes e os obedecessem.
Quando finalmente ficaram sozinhos, Mat deitou do lado de Paul na cama olhando em seus olhos dourados.
— Acho que entendi o que aconteceu pelo que ouvi das crianças, mas Paul foi uma loucura sair em meio a uma tempestade. Podia ter acontecido algo pior.
— Mat eu faço qualquer coisa pelos meus filhos, qualquer. Eu não me importo se estiver tendo um furacão lá fora, se eu acho que um deles pode estar em perigo eu enfrento tudo.
— Esse amor que você tem nesse coração – colocou a mão no peito do outro – é uma das coisas que fez com que eu me apaixonasse por você. Foi esse amor que me guiou até você. Eu podia ouvi-lo, podia sentir que estava em perigo – sua mão foi para o rosto do rapaz – Nosso amor nos conectou. Separados éramos apenas partes de um todo, agora juntos somos inteiros novamente.
Ele beijou os lábios do outro de modo terno, era quase que como um leve roçar de lábios.
— Quando aquele galho caiu, eu só pensava em meus filhos e você, e foi a você que minha alma gritava de desespero. Algo dentro de mim me dizia que você me escutaria e viria por mim.
Eles se abraçaram sentindo o cheiro um do outro e agradecendo a Deus por estarem juntos e a salvo.
Ao norte da Vila de Haven, em uma escarpa que dava para um lago, havia uma figura sombria olhando para o horizonte onde as nuvens partiam como que empurradas por um vento forte. Sua mão estendida para o céu como se só com isso ele pudesse mover a tempestade para longe.
— Você não deveria estar se expondo assim – disse uma voz perto dele.
Vinha de um homem alto, de pele bronzeada e marcada por cicatrizes de batalhas. Os olhos castanhos claros brilhavam em um rosto rígido. Os cabelos negros e lisos voavam ao vento que parou repentinamente quando a figura vestida de negro baixou a mão.
Ele abaixou o capuz expondo um rosto delicado e fino. Os olhos negros brilhavam de um modo que as pessoas achavam estranhamente surreal, era quase como se houvessem estrelas, universos inteiros girando na íris escura. Seu cabelo negro e crespo voava ao vento como o de seu companheiro.
As nuvens haviam parado de ir embora e voltavam como se desafiasse ele a continuar. Por mais que se queira a natureza sempre retomava o seu curso, era senhora de sua vontade.
— E quem vai saber? Tudo a nossa volta é um grande ermo – ele parecia cansado – Eu precisava saber se os sinais eram reais.
— Agora que confirmou o que vai fazer?
— Nada. Você sabe o que eu sou para os povos dos reinos do norte?
— Eu sei – o outro endureceu mais ainda sua face – Essa gente não sabe da verdade, só o que aquela maldita mulher contou a eles.
— Ela agora acha que eu vou ajudá-la! – ele ergueu os ombros.
— Você está jogando um jogo perigoso Waldrich – resmungou o outro cruzando os braços – Jogando com Alberta McGives e Kamm, aquele elfo megalomaníaco.
— É só o que me resta – olhou o horizonte – Ela tirou tudo de mim, só deixou o meu ódio!
— O que eu não entendo é como ela acha que você vai cooperar com ela depois de ter sido prisioneiro daquela maluca por doze anos!
— Alberta acha que eu não lembro de nada, acha que o poder que ela tem sobre mim é grande o suficiente para suprimir as minhas memórias. Eu nunca manifestei que a conhecia e muito menos que sabia o que ela tinha feito comigo. Para ela eu não passo de um mago ganancioso que só quer poder – ele deu uma risada sem alegria – A maioria acha que eu quero o reino de Gaulesh. Punhado de imbecis! Já tenho problemas suficientes com o reino que tenho para querer mais terras. O que eu quero é o que aquela mulher tirou de mim, cada um deles e no fim eu vou matar aquela cadela e aquele Máder – ele cuspiu a palavra.
— Se eu tivesse cuidado melhor de você naquela época – o outro balançou a cabeça.
— Já pedi para esquecer isso Ekbert – Waldrich apertou o braço musculoso do guerreiro – A culpa é apenas minha, você só cumpria ordens. Em nada vai adiantar você ficar assim – voltou se para o céu que já se nublava novamente – A roda do destino começou a girar. Não posso e nem vou voltar atrás. Meu sonho é fazer Alberta pagar e se para isso tenho que me aliar com tipos como Kamm eu o farei!
— Cada um deles quer destruir você por um motivo. Não sei como vamos terminar.
— Eu nunca esperei um final feliz em minha vida Ekbert. A única coisa que esperei por anos e anos foi à vingança.
O coração de Ekbert doeu. Amava com todas as forças o mago, mas sabia que Waldrich jamais ia amá-lo depois do que acontecera depois de ter vivido anos em uma prisão sob o sadismo da rainha Alberta. Se a vingança era a única coisa que restava ao seu amado ele o ajudaria, daria mesmo a sua vida se com isso o coração do rei de seu país tivesse um pouco de alivio.
— Se fossem em outros tempos, em outra vida, talvez... – Waldrich olhou para ele sorrindo com uma tristeza tão profunda que doeu até mesmo nos recantos mais profundos da alma dele.
— Meu rei – Ekbert ajoelhou-se pegando a mão do mago e colocando em sua testa – Sua vingança também é a minha vingança. Juro por minha honra que o ajudarei a destruir aqueles que tanto lhe fizeram mal e restituir aquilo que lhe foi tirado tão brutalmente. Por minha honra meu rei.
— Meu bravo Ekbert – Waldrich levantou o rosto do guerreiro olhando nos olhos castanhos onde lágrimas não caídas brilhavam – Eu não ia querer mais nem outro ao meu lado.
Os dois ficaram assim se olhando por muito tempo, cada um querendo que o tempo congelasse naquele segundo e eles pudessem ficar se olhando por toda a eternidade, mas o senhor tempo é indomável como um cavalo selvagem.
Ekbert se levantou e segurou a mão de Waldrich e assim juntos começaram a descer o morro.
Capela colocou a mão na testa de Maleah cada vez mais preocupado, sua temperatura subia a olhos vistos e não havia nada que ele pudesse fazer. Olhou para a noite escura. Por algum tempo a chuva havia parado, mas voltara com força total.
O elfo gemeu e abriu os olhos.
— Maleah como você se sente?
— Dói! – ele gemeu em uma estrangulada apertando fracamente a lateral do corpo.
Era o lado onde ele havia quebrado as duas costelas. O elfo estava pálido e suava tremendo.
— Calma – não sabendo o que fazer ele segurou a cabeça dele e com delicadeza colocou em seu colo – Desculpe por isso, eu não sei o que fazer.
— Paul... – ele engoliu sentindo a garganta seca – ele... esta bem. Ele foi... resgatado.
— Agora parece que nós é que precisamos de resgate! – Capela tentou dar um tom de humor a voz passando a mão por entre os cabelos do elfo.
— Um elfo precisando de... resgate – havia amargura na voz do outro – Meu pai... ia adorar saber disso.
Ele tentou rir, mas foi substituído por uma tosse forte que estremeceu todo o seu corpo e no final seus lábios estavam sujos de sangue.
Capela limpou com um lenço ainda úmido não falando nada para o elfo, mas com a queda do cavalo a costela deveria ter perfurado o pulmão do elfo.
— Isso doeu mais do que quando fui mordido por uma víbora – gemeu ele respirando com dificuldade.
“Deus, por favor, nos ajude!” Capela não era um homem religioso, normalmente ele debochava das pessoas presas a deuses, mas naquele momento era só o que lhe restava.
A fadinha que ainda estava na reentrância da rocha levantou vôo e sumiu na escuridão da caverna. Capela ficou ali acariciando os cabelos de Maleah e vendo ficar cada vez mais cansado e com a respiração com um estranho chiado.
De repente a caverna começou a se iluminar e quando o tenente levantou a cabeça percebeu que milhares de fadas estavam em volta dele como um enxame de vaga-lumes.
— Capela amigo de Paul – uma fada um pouco maior que as outras e vestindo um vestido feito de fibras douradas pousou perto dele – Yeri nos avisou que vocês precisavam de ajuda. Seu companheiro está morrendo.
Morrendo? Seria assim tão grave?
— Queremos ajudar, mas os nossos poderes de cura são pequenos para um elfo. Eles são resistentes por natureza á qualquer magia, mas a magia humana pode penetrar em sua couraça protetora.
— Você está me dizendo que um mago humano poderia salvá-lo?
— Sim.
— Infelizmente não há magos aqui em Haven. O principado não tem esse tipo de tradição.
— Mas nós podemos transformá-lo em um.
— O que?!
— Podemos emprestar algo da nossa força a você, mas ela nunca mais vai se perder. Será algo com que terá que conviver, é o seu preço a pagar se quer salvar a vida dele. Na natureza nada se perde tudo se transforma em algo. Essa lei também diz respeito à magia. Ao darmos ela a você ela não será perdida, mas vai se transformar em parte de ti – a fadinha levantou vôo ficando em frente a ele – O que decide Capela amigo de Paul?
Ele olhou para o elfo que respirava de forma trabalhosa e cansada percebendo que ele não tinha que decidir nada, era hora de agir.
— Eu aceito.
A fadinha balançou a cabeça séria e todas as outras fadas levantaram vôo ficando em volta de Capela e Maleah. Seus brilhos aumentava e uma estranha vibração cortava o ar. Os olhos de Capela começaram a pesar e pareceu que ele caia no sono e sonhava em estar imerso em um lago de luz azul quente e cálida, que flutuava ali livre de tudo.
Ele sentia seu corpo como se não pertencesse a ele. Sua mão se movia contra a sua vontade e ele não ligava realmente para isso. Tocou a testa do elfo sentindo que algo passava da sua mão para o corpo de Maleah.
De repente ele foi invadido por lembranças que não eram suas, lembranças que vinham do elfo. Ele tentou bloquear a visão de algo tão pessoal, mas finalmente se deu conta que estava se ligando ao elfo de forma irreversível, que sua alma e a dele fundiam-se naquele oceano de luz.
Quando tudo passou e Capela pode abrir os olhos estava diante do elfo que estava sentado e o olhava com os olhos brilhando de raiva.
— O que você fez?!
— Acho que salvei a sua vida – o tenente ficou contrariado ao ver como era agradecido.
— Você não sabe o que acaba de fazer seu grande imbecil! – o elfo socou o chão – De acordo com as leis do meu povo quando duas almas tem esse tipo de encontro quer dizer que eles estão casados! Estamos juntos por toda a vida!
Capela não conseguiu esconder o horror dessa noticia.
Sara descobriu onde era a janela por causa do calor do sol. Ela deixou as cobertas e andando de forma lenta, mas decidida foi até o calor que podia sentir de longe sabendo que o sol havia acabado de raiar.
Suas mãos acharam o pino da vidraça e ela pode abrir sentindo o ar frio da manhã entrar assim como outros cheiros: rosas, madressilvas, terra, hortelã e grama recém cortada.
Os sons também a ajudou a compor o quadro em sua mente. Ela ouvia o som do vento batendo em árvores altas e em arbustos. Seus galhos estavam e se contorciam. O barulho de uma enxada e de uma tesoura de poda, cavalos em um pátio a cerca de vinte metros e a sua direita, vozes de pessoas conversando sobre o tempo, fofocando sobre o que acontecia no castelo, alguém gritava ordens para soldados, o barulho da cozinha no térreo.
Com o vento batendo no castelo ela podia fazer um retrato de como ele seria. Voltou-se para seu quarto lembrando de como Gwen o havia descrito. À direita da porta havia um armário e a esquerda a lareira. A cama de casal e de colunas estava no meio do quarto e a cada lado tinha uma mesinha de cabeceira. Perto da janela haviam duas poltronas e no meio delas uma mesa de chás.
Andou com cuidado conferindo cada detalhe, guardando na cabeça todo o espaço, fazendo um mapa de cada detalhe e em pouco tempo ela podia “ver” o quarto na sua mente e se sentia mais segura dentro dele.
Alguém bateu na porta e ela deu um suspiro contrariado já sabendo quem era. Foi até a porta abrindo para Gabe que a olhava preocupado.
— Tá tudo bem?
— Não! Eu tropecei e cai no jardim que fica logo debaixo da minha janela, na verdade eu acho que ia me espinhar nas roseiras amarelas que estão à volta dos alguns arbustos de madressilvas.
— Você gosta de se mostrar, não é? Não sei por que eu ainda me preocupo com você.
— Ai que bonitinho – ela apertou as bochechas de Gabe sabendo o quanto isso irritava o irmão – ele ficou nervosinho.
— Para! – ele bateu na mão dela contrariado.
— Bom dia crianças – disse uma senhora com uma bandeja – A princesa pediu para trazer o seu café senhorita Sara.
— Senhorita?! – Gabe fez cara de horror o que deve ter transparecido na sua voz, pois a irmã deu-lhe um chute.
— Obrigada – a menina se afastou para que a serva entrasse com o café e deixasse em cima da mesinha.
— Eu deixei em cima da mesa perto das poltronas. Seu irmão pode ajudá-la, não? – ela deu um sorriso indo embora.
— Eu posso muito bem comer por mim mesma – resmungou ela andando pelo quarto com desenvoltura.
— O que o pai diz Sara? As pessoas não ti conhecem, elas apenas imaginam o que você pode fazer sendo cega.
— Eu não sei por que tanto alarde por isso – ela sentou em uma das poltronas – Eu nunca vi na minha vida e não sei o que é isso. Eu sinto o mundo e para mim é o suficiente.
— Todos precisamos de ajuda de vez em quando Sara – disse gabe contrariado com a irmã.
— Gabe você não sabe como é quando as pessoas olham para você e não ti vêem realmente, mas o que elas enxergam é apenas a sua deficiência.
— Sara as pessoas não olham realmente para mim, mas através de mim. Eles sabem que sou um rejeitado de Gorlan.
— Todos nós somos Gabe!
O menino voltou-se para a porta e respondeu para a irmã de costas.
— Sim, mas muitas pessoas da cidade sabem por que eu fui rejeitado – de cabeça baixa ele saiu do quarto.
— Droga! – resmungou Sara – Como é que terminamos assim? Sei o quanto ele odeia lembrar do passado e não queria que ele ficasse assim. No final gabe é um tonto, não há pessoa mais pura que ele.
Mathew já havia acordada há algum tempo. Sentara na cama e seu olhar vagou pelo rosto de Paul como se assim pudesse gravar em sua mente cada detalhe, cada pequena sarda que aparecia no nariz pequeno e atrevido, nas linhas de expressão na testa que ele enrugava quando ficava nervoso ou era contrariado, na pequena cicatriz perto do queixo que ele tinha o costume de coçar quando estava preocupado, os lábios cheios e convidativos que ele adorava beijar.
Era estranho como em tão pouco tempo ele havia gravado cada detalhe e como ele amava cada parte do corpo do outro.
Toda a sua vida ele simplesmente nunca se preocupara com o amor, achava que não era coisa para ele, que vivia de um lado para o outro tentando fugir das lembranças da humilhação que a sua mãe lhe infligira.
Brincou com uma mecha do cabelo do outro e deu um sorriso triste. No final das contas a raiva que tinha da mãe estava se transformando em outra coisa, em uma grande pena da mulher que nunca ia saber o que era amor de verdade. Pena da vida vazia que ela se condenava no final.
Agora ele tinha a quem dar todo o amor que ele nunca dera a ninguém. Aquele amor que o deixava bobo olhando para a pessoa amada e pedia para que o tempo se transformasse em pingos de eternidade a se despejar no oceano do infinito para que pudesse ficar assim para sempre. Amor que deixa a gente em êxtase ao ver o sorriso da pessoa amada ou sente que seu coração vai explodir com a sua risada doce. Amor que dava vontade de sai pelos apanhando flores ao amanhecer para entregar ainda com o orvalho para ele. Amor tão profundo que podia tocar as estrelas e se perder pelo mar de estrelas do universo, amor mais forte que a própria morte.
Lentamente baixou o rosto para beijar os lábios de Paul e ao levantar viu que este abria vagarosamente os olhos e o olhava com aqueles olhos dourados tão doces e lindos.
— Estive aqui pensando em tantas palavras para ti dizer e agora desapareceu tudo da minha cabeça – ele riu.
— Você já me disse tudo que eu precisava ouvir Mat – fez um carinho no rosto do outro – Disse que me amava e para mim isso diz todo que um discurso de mil palavras não falaria – tocou os lábios dele e Mat aproveitou para beijar a sua mão – Amo você Mathew McGives.
Mat sorriu para ele com seus olhos violetas brilhando como nunca mergulhando nos dourados de Paul e aquele segundo foi do tamanho de toda a eternidade.
adorei esta parte acho que os principes são filhos do mago não são? espero ansiosa as outras partes.
ResponderExcluirbjs lulu